segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Viagem

"Toda viagem é uma viagem para dentro!"
Pensei eu, enquanto via-me em via única. Go!
Há de vir alguns sinais fechados pela frente
Uns pra reter, outros pra mastigar o adiante

Raios solares, eclipses numerosos em teus olhos nus
E o sangue quente e feroz, determina nosso elo
Embarcações, rodeavam teu vestido branco
Dando foco ao eixo fosco, que rondava tuas pernas
Era sonho, desenho da madrugada

"Toda viagem é uma viagem para dentro!"
Gralhava a ave maldita
Enquanto eu voltava pra casa.

(Bruno de Santana Cruz, 06/01/2014)

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Passeio Público

Eu conheci bêbados demais
Mendigos, prostitutas, pastores
Ovelhas, rebanhos e trabalhadores

Codifiquei verme por verme 
Fome por fome
Ideia por ideia em espécie viva
Conheci demais
E sei, que uma ponta leva a outra

Conheci mulheres
Que em seus motivos
Tragavam-se 8 maços de tédio por dia

E homens, com seus ternos
Que bebiam barris de decepção
Por toda a semana

E putas, que viraram moças
E freiras, que se deram
E depois deram pra alguns
E viram a verdade
E não quiseram mais sair de lá
Nem voltar pra casa

Que em casa, que abriga teus maiores medos
Lá no mundo, o mundo oculto na rua
A gente vê demais

E descobre
Que de nada a gente sabe
E que de tudo que é provado
Com o tempo se refaz.

(Bruno de Santana Cruz, 18/10/2013)

Retrato Único

E um dia faltou luz
E o diálogo rugiu
E ela notou o quanto seu beijo era bom
E ele não precisou fugir

Naquela noite, compartilharam-se em silêncio
Com velas, incensos e outros pecados
Naquela noite, a luz voltou a brilhar...

(Bruno de Santana Cruz, 29/10/2013)

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Mortal

Você não sabe o que quer
Até lembrar-se do que queria
De um modo ou de outro
As ruas se rendem umas as outras
E se beijam no final da esquina.

Ela me levou a lugares novos
Apresentou-me a pessoas
E aprontava-me o café, todas as manhãs
Cordialmente, rendia-me alguns afagos
Destilava-me minunciosamente
E o fazia tão bem que eu não notara
Até estar desproporcionalmente decomposto
Era, de fato, um palhaço ultrapassado, nas ruínas do novo mundo.

Uma única luz iluminava a rua
Talvez fosse esta apenas, que iluminasse meus sentidos
Percebia os carros, as flores, a rota, a selva, tudo em volta do que era fútil
Atrevia-me a contar teus sinais, tuas voltas e com o tempo, já saberia o mapa de cor de teu corpo
Onde gemias, onde chorava, onde gritava e até o que lhe fizesse sorrir
Com mais tempo ainda, já fazia espontaneamente
Através de teus desvios, desviava eu, minhas intenções
Perversas.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Eu, mentiroso

Eu reconheço um mentiroso a uma légua de distância
Rodeando as fogueiras de aldeias fantasmagóricas
Conheço seu cheiro imundo, suas imagens aleatórias
E suas falácias esbanjadoras afirmando a comunhão

Desconjuro todo bem que me fizer um mentiroso
No final do dia, do ano, da vida, não me servirá de nada
E por mais que o espanquemos, ele sempre sairá como fumaça
Vagando a eternidade do supremo saber, ah mentiroso!

Eu conheço um mentiroso atravessando a rua
Sentado na praça, na fila de um banco, tocando violão
Eu conheço tanto um mentiroso, que seria eu até um deles
Sentado na máquina, relendo antigos versos, roendo minhas unhas
Fazendo meus castelos, seria eu, eu mesmo.

(Bruno de Santana Cruz, 19/07/2013)

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Amor retificado

Era dois em dois
Como dois em dois da certo
Depois era o caos
Como o mal vem, pra um lado ou pro outro

Depois eram flores
Como rosa em rosa cega, fere, fisga e encanta
E o resto era flash, quarto fechado, mão que afaga
E o mundo, era pequeno demais pra mim
Enorme demais pra você

E o beijo também era enorme
Enorme que dorme e cobre
E o ouro desafio, sossego e retidão
E o mau se foi por mar
Como em céu e terra, sempre haverá de ser

E o raio era eclipse, num clipe de papel
Então eram outros risos, outras formas de ver você
E agora somos nós dois, de um lado, no mesmo canto
Sossego é nosso encanto, a carne, o verde, o encarte
E a escuridão faz parte, dos sonhos que hão de vir.

(Bruno de Santana Cruz, 11/07/2013)

terça-feira, 9 de julho de 2013

Vertigem

Não me disse pra fugir
Quando por deus, jurou ser sincera
E o lapso abismo teátrico
Desmancha o contato carnal

Mas só não se perca
Por onde imagina não me encontrar
Que em partes de terra eu sou teu final
Provérbio, vereda, origem do caos

(Bruno de Santana Cruz, 10/07/2013)